segunda-feira, 11 de julho de 2011

In paradise dreaming with hell

O sangue escorria pelas paredes como se fossem as próprias a sangrar, gotas grossas caiam do tecto como se este chorasse lágrimas tão pesadas que partiriam o chão com o seu embate, as portas e janelas batiam com mais força do que a que o vento poderia ter, os cães lá fora uivavam tentando partir as pesadas correntes que os mantinham presos àquela terra tão degradada e infértil que os próprios pássaros necrófagos as abandonaram ou morreram. O tecto do mundo era quebrado de segundo em segundo pelos enormes relâmpagos que pareciam desfazer o céu e a terra, a chuva ardente destruía tudo onde as suas gotas flamejantes tocavam, explosões ouviam-se ao longe pelos surdos que estavam no meio delas.
No meio de tudo, Ela apenas ouvia o som de um coração que lentamente batia embalado em pensamentos insignificantes.
Novamente o som da lamina a deslizar no metal, será que o inferno continuaria eternamente? Sentiu a lamina rasga-lo, de dentro para fora, arrancando o que restava de um coração ferido, embora quente. Tentou fechar os olhos antes que lhe arrancassem os membros com ganchos de metal que fervilhava por sangue e estrujia na carne, mas a velocidade de um piscar de olhos em nada se comparava à velocidade das longas mãos do seu punidor sem rosto e desprovido de alma. Curtos minutos passaram, com o sofrimento de longos anos, as paredes estavam pintadas de vermelho como se delas jorrasse o sangue com odor putrefacto a que sempre foram expostas ao logo dos milénios. Abriu os olhos enevoados, esperando que tudo acontecesse de novo e novamente como acontecia todos os minutos, mas as chamas cessaram num turbilhão de nuvens que sugou a casa e tudo o que a envolvia, ficando apenas Ele, sozinho na escuridão, sentindo saudades do sofrimento infernal que tanto odiara. Piscou os olhos sem luz várias vezes tentando obrigar-se a habituar às mais puras trevas, mas não havia nada a fazer. Seria este o fim?
Uma gota caíra, uma gota de água límpida num dia fresco de verão, abriu os olhos e descerrou os punhos olhando para as palmas marcadas por golpes das suas curtas unhas. Ele estava farto do seu pequeno inferno que insistia em devorar os seus mundos tão meticulosamente construídos para serem apenas perfeitos, uma gota caiu pela sua cara quando a ouviu a Ela aproximar-se apressadamente por trás de si, ambos os corações, trocados de peito, batiam mais depressa ou mais devagar do que seria humanamente possível, a chuva molhou-os sem que Eles tivessem tempo para se aperceberem disso, Ela saltou-lhe para as costas e abraçou-o, Ele rodou sobre si e beijaram-se, flutuando até avistarem as nuvens muito abaixo dos seus pés, se abrissem os olhos claro. Isto era apenas o inicio...