Nove anos antes…
Num cemitério, já não muito utilizado, numa sexta-feira treze de lua cheia, quase à meia-noite, encontravam-se seis rapazes com idades entre os onze e os quinze anos.
-Qual é mesmo a razão de estarmos aqui? – Perguntou um dos rapazes mais velhos.
-O simples facto de provavelmente não termos mais nenhuma oportunidade como esta na vida! – Respondeu outro dos mais velhos.
-Hum… e esta oportunidade, como dizes, é a oportunidade de?...
-A oportunidade de ter alguma coisa na vida! Anda faz isso e pára de fazer perguntas! – Disse apontado para o chão.
-Tá bem, tá bem…
Este último rapaz acabou de desenhar um grande pentagrama no chão e colocou uma vela em cada uma das cinco extremidades.
-O resto é contigo…
-Sim, eu sei.
Colocou um cálice largo de prata com um pó amarelado no seu interior no centro do pentagrama e rodeou-o com mais cinco velas, em seguida acendeu as velas que acabara de colocar e as outras que o amigo colocara antes.
-Trouxeste o que te pedi? – Perguntou afastando-o dos outros para que mais ninguém ouvisse a conversa.
-Sim, mas para que a queres?...
-Bem, para completar o ritual temos de fazer um sacrifício humano. Espero que estejas à altura da tarefa.
-Ah sim… Pera, O QUÊ?!
Virou costas deixando o amigo incrédulo e sem resposta. Este não acreditava no que se estava a meter. Nunca devia ter aceitado ir ali com aquele fanático, e acima de tudo, não devia ter trazido ninguém consigo. Estavam todos à sua espera no pentagrama para começarem o ritual. Agora já era tarde para voltar atrás, de qualquer das formas não acreditava naquilo. Dirigiu-se também para o pentagrama, já não havia volta a dar, não iria passar por cobarde. Quando lá chegou três dos rapazes estavam posicionados em três das extremidades do pentagrama e dois encontravam-se no centro junto ao cálice.
-Vem cá! – Ordenou o rapaz com quem acabara de falar.
Caminhou até ao centro onde estavam os outros dois. Para além do rapaz com quem estivera a falar e que o chamara estava o membro mais novo do grupo que apenas tinha onze anos de idade.
-Agora faz o que te disse. Rápido!
Não era capaz, não podia. Era apenas uma criança…
-Então? Faz isso depressa!
Tirou a adaga de prata do bolso do casaco, disposto a tentar completar a sua tarefa e a mostrar a sua força e coragem, mas não era capaz.
-Oh dá cá isso. – Disse tirando-lhe a adaga da mão e espetando-a no peito da criança de apenas onze anos.
Os seus olhos apagaram-se no segundo em que a adaga de prata ornamentada lhe trespassou o coração. O assassino arrancou-lhe a adaga do peito, colocou-a dentro do cálice e acendeu o pó amarelado que este continha.
-Invoco todos os espíritos negros para concederem os nossos desejos! Aceitem o nosso sacrifício, uma criança inocente pela vossa presença!
Os três rapazes que se encontravam em três das extremidades do pentagrama fugiram aterrorizados com o que presenciaram. Repentinamente um vento frio soprou e sombras surgiram de toda a parte, parecendo provir todas do chão daquele cemitério amaldiçoado e todas elas se dirigiam para eles.
-Não gosto nada disto…
-Não te preocupes, fui eu que as chamei, não nos irão fazer mal… acho…
As sombras disformes aproximavam-se cada vez mais e cada vez mais depressa. Não faziam ideia do que iria suceder, se iriam ficar bem ou mal. Mas então todas as sombras entraram no corpo sem vida da criança e por um segundo parecia que tinham desaparecido. Mas isso seria demasiado bom, então, o corpo da criança levantou-se e ficou com os olhos totalmente vermelhos.
-Nós somos grinmord. Por nos teres despertado iremos conceder-vos um desejo mas irá sair caro. – Disse uma voz grossa e tenebrosa a partir do corpo da criança.
-Eu, eu… quero um Ferreri!
-Hum… um carro… sim. Isso só custará a tua alma! Muahahahah….
-De acordo, mas não me faças mal…-disse molhando as calças.
-Um dia, quando eu quiser, virei para te buscar! E tu que queres?! – Disse apontado para o outro rapaz que ainda ali se encontrava.
-Eu… ofereço a alma da minha mulher, quando tiver uma. E quero… um bom carro e um bom emprego, bem, estar bem de vida…
-Hum… isso ir-te-á custar mais que a alma de alguém que não conheces! Suponho que a tua alma também faça parte do pacote. – Disse, libertando o corpo.
Todas as sombras deixaram o corpo numa só, que apresentava uma forma humanóide e uns olhos vermelhos. O corpo deixado no chão sem vida encontrava-se com a pele enegrecida e com os globos oculares vazios. Ambos tiveram que se esforçar por conter o vómito quando a seguir tiveram de cavar uma cova e pegar e enterrar aquele pequeno corpo que quase se desfazia nas suas mãos.
Nos dias seguintes pensou que estivesse a alucinar e com o tempo acabou por pensar que tudo aquilo não passara de uma partida que a sua mente lhe pregara, acabando quase por esquecer aquele assunto, até agora pelo menos.