segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Noite gelada


Primeira noite sozinho. Não que nunca tivesse estado sozinho à noite, em casa ou mesmo na rua, mas desta vez era diferente. Para o resto do mundo aquela era uma noite importante, uma das noites mais importantes do ano. Mas só queria estar sozinho, há muito tempo que queria passar assim aquela noite, já que não a poderia passar com a pessoa que era a sua vida. Aquele pequeno abismo sem fundo na escuridão da noite, era um dos poucos sítios onde poderia estar sozinho completamente em paz. A única luz visível era a pequena chama de uma vela já um pouco gasta no meio das sombras. A sua única ligação com o resto do mundo era o seu telemóvel, que apenas ia usar para ligar a uma pessoa. Sentiu uma brisa suave, a luz ali existente tremeu, mas pareceu não ter sido a única coisa a tremer. Ele tremera com a luz e com as sombras, tremera com a brisa. Há muito que queria estar ali naquela noite sozinho, mas agora não queria estar sozinho. Olhou para o telemóvel para ver as horas, faltavam apenas alguns minutos. Olhara com mais atenção, só agora reparara que estava a ficar sem bateria. Aquilo não era bom sinal. Esperava que a bateria durasse pelo menos mais alguns minutos. Ouviu algo ao longe, galhos a partirem, pelo menos era o que o som aparentava. Provavelmente seria apenas um pequeno animal. Nova brisa. Desta vez a chama da vela quase esvaneceu, não fossem os seus reflexos rápidos para se colocar em frente a ela para que esta não apanhasse com o vento. Tremeu, tremeu de frio, ele que nunca sentira frio, agora tremia com uma simples brisa. Olhou para o vazio, lembrando-se da sua vida, de tudo o que passara naquele ano e então lembrou-se novamente que estava sozinho. Tentou controlar-se, mas não muito, ninguém o veria por isso não se importava. Uma pequena gota escorreu pelo seu rosto. Uma gota salgada proveniente de um dos seus olhos. Não queria estar sozinho. Não por ter medo da solidão, apenas por querer estar com uma pessoa, uma pessoa muito especial. Era a pessoa que mais amava em todo o mundo mas que no entanto naquele momento se encontrava muito longe dali. Varias lágrimas se seguiram à primeira. Mais uma vez pegou no telemóvel para ver as horas, estava no último minuto. De repente ouviu um grande estrondo vindo dos céus, e as suas lágrimas misturaram-se com os rios que vinham das nuvens. A vela apagou em menos de um segundo, enquanto que ele ficou ensopado. Meia-noite. Era o momento de ligar, mas então sentiu o telemóvel vibrar. Alguém lhe ligava. Atendeu com o coração aos saltos. “Feliz ano novo!” ouviu da voz mais doce que conhecia, ao que respondeu, “feliz ano novo!” enquanto que as suas lágrimas já teriam um caudal que poderia ser comparado ao da chuva. Não disseram mais nada durante alguns segundos. Então, mesmo antes da bateria terminar disse “amo-te”. Em seguida apenas ficou o silencio da chuva. Estava completamente sozinho como um dia quisera, sem qualquer luz ou ligação com o mundo. Sentou-se. Um novo ano começara, e ele só queria que este terminasse.

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