domingo, 14 de novembro de 2010

Pesadelos - IV

Acordou a ouvir uns sons estranhos. A sua cabeça doía como nunca, e cada um daqueles bips era um tormento. Abriu os olhos para um quarto branco. Estava num hospital. Tinha fios ligados à cabeça e ao peito, um tubinho de soro espetado na veia perto do pulso e uma espécie de mola no dedo indicador para medir as pulsações. Mas como teria ele chegado ali, e porque o tinham levado? Provavelmente teria sido aquele polícia que o encontrara junto ao carro. As dores de cabeça começavam a aumentar, e estranhamente sentia algo que parecia queima-lo por dentro. Queria sair dali. Arrancou todos os fios e pôs-se de pé, para logo se sentar na sua cama. As suas pernas estavam um pouco fracas e estava tonto. Voltou a tentar.
-O senhor não se pode levantar assim. – Disse um outro homem que estava na cama ao lado.
-E quem me vai impedir? – Disse com arrogância, continuando a andar na direcção da saída.
Uma enfermeira chegou ao quarto e assustou-se ao velo levantado.
-O senhor não pode estar assim, tem de voltar já para a cama.
-Não posso. Não aguento ficar aqui, tenho que ir embora.
-Tem de voltar, o senhor não está em condições de andar a pé.
-NÃO! – Disse ao mesmo tempo que correu para a porta, derrubando a enfermeira.
Saiu para o corredor e virou à direita, mas foi barrado por um outro enfermeiro que ouviu a confusão e logo apareceram mais dois que o agarraram pelas costas e lhe injectaram algo que não viu o que era enquanto se debatia.
-Deixem-me ir, quero sair daqui, não posso ficar aqui, não. – Dizia antes de se apagar novamente.
Acordou passadas umas horas. Aqueles bips irritantes continuavam a infiltrar-se-lhe pelo cérebro. Tinha que sair dali, não aguentava, mas tinha que esperar, a ultima vez que tentara fugir não deu muito resultado. Fechou os olhos na esperança de adormecer novamente e parar de ouvir aqueles bips que o atormentavam, mas de nada adiantou. Sentiu um pingo cair-lhe na testa, e logo em seguida outro. Abriu os olhos e quase saltou da cama. No tecto as palavras “És meu” estavam escritas com sangue. Saltou da cama, ia sair dali. Arrancou todos os fios, procurou roupas nos armários ali existentes, e encontrou as suas, ainda sujas com sangue do seu nariz. Saiu ao corredor já vestido e tentou não correr. Não queria dar nas vistas. Andou e andou, os corredores pareciam-lhe todos iguais, mas por fim encontrou o caminho para a saída pelas urgências. Durante todo o percurso não foi abordado por ninguém, e quando estava já a sair á porta automática do hospital alguém o chamou.
-O senhor, hey, o senhor não pode estar aqui!
Era um dos enfermeiros que o tinha barrado antes, tinha que sair dali, mas o enfermeiro já o alcançara. Não havia mais nada a fazer. Virou-se para trás e esmurrou o enfermeiro com toda a sua força deixando este no chão. Atravessou a porta da saída a correr, antes que mais alguém decidisse tentar pará-lo. As dores de cabeça quase desapareceram por uns momentos, mas agora voltavam com ainda mais intensidade. Quase não aguentava, mas tinha que aguentar, a sua vida dependia disso. Aquilo tudo só poderia ser uma coisa. E ele que nunca acreditara naquelas coisas… talvez tivesse sido esse o seu erro desde o começo.

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