Saiu do carro e dirigiu-se à porta da antiga casa do amigo. Bateu e aguardou um pouco até que a mãe do amigo lhe abriu a porta. Era uma senhora baixa e com um pouco de peso a mais, era morena e tinha os olhos castanhos.
-Boa tarde meu jovem, que deseja.
-Boa tarde… ah… eu sou amigo do seu filho Nelson… gostaria de saber…
Repentinamente a mulher desatou a chorar cortando-lhe a palavra. Voltou-se para trás deixando a porta aberta atrás de si. Passado menos de um minuto um homem de bigode, já com alguns fios grisalhos. O homem não era muito alto mas algo nele era tenebroso dando-lhe um ar um pouco ameaçador.
-A sua mulher começou a chorar… eu não sei o que se passou, não fiz nada, acho…
-Que queres daqui rapaz?
-Bem, eu sou amigo do seu filho Nelson e…
-Já percebi porque é que ela começou a chorar. Não sei se soubeste mas… mas o meu filho… bem, ele… ele morreu há já três anos…
Viu a sua última esperança desaparecer. Aquela era a única forma que tinha de se livrar de tudo aquilo. Só havia uma coisa a fazer, desistir. Ou talvez não, talvez ainda houvesse algo…
-Mas… mas como é isso possível, como é que ele morreu?
-Acidente. Morreu naquele maldito Ferrari! O carro não ficou com um único risco, mas o meu filho… os médicos dizem que não tinha um osso inteiro ou um órgão que não estivesse deformado.
-Posso ver o quarto dele?...
-Que queres de lá?
-Ah… despedir-me…
Após alguns momentos de silencio o homem indicou que o seguisse. Quando entrou para o corredor da casa pode ver ao que a mãe do amigo se encontrava numa das divisões à direita, que deveria ser a cozinha, a chorar. Seguiram sempre em frente pelo corredor até que chegaram a umas escadas que subiram e entraram na primeira porta à direita. O quarto parecia estar como Nelson o havia deixado, não estando totalmente arrumado mas bastante limpo. Estiveram alguns minutos no quarto sem proferir uma palavra.
-Já te despediste?
-Ah… não me poderia deixar um pouco sozinho?
O homem ficou a olhar para ele como se o estivesse a examinar por dentro para decidir se o deixaria ou não ficar no quarto do falecido filho sozinho. Acabou por decidir e sem mais nada dizer saiu do quarto fechando a porta atrás de si. estava na altura de procurar. Olhou para a grande estante repleta de livros, não pareciam nada de Nelson, pelo menos duvidava que ele algum dia os tivesse lido. Por outro lado, havia muitas coisas no amigo que parecia desconhecer por isso era bem provável que fosse natural ele ter tantos livros. Nenhum dos títulos o chamou a atenção e continuou a procurar. Nada encontrou. Procurou por todo o lado mas não encontrou nada de útil. Tinha que lhe estar a falhar alguma coisa. Debaixo da cama, como é que se poderia esquecer de procurar aí? Logo encontrou uma grande caixa preta. Estava fechada com um cadeado e tinha um pentagrama desenhado na tampa. Tinha de ser aquilo, mas como ia levar aquela grande caixa sem que os pais do amigo dessem conta? Olhou à sua volta. A única opção era atira-la pela janela e esperar que nada no seu interior se quebrasse. Não pensou duas vezes antes de atirar a grande caixa pela janela, e mesmo a tempo pois no segundo seguinte o pai do seu amigo entrou pela porta dentro.
-Acho que já chega de despedidas não concordas?
-sim.
Assim que começou a descer as escadas que davam para o corredor começou a sangrar novamente pelo nariz. Desta vez não sangrava tanto como da primeira e o pai de Nelson só se apercebera quando já se encontravam à porta.
-Estás bem rapaz?
-Isto já passa, não se preocupa. – Disse virando costas para rodear a casa e ir apanhar a caixa que minutos antes tinha atirado pela janela.
Não demorou a encontrar a caixa, assim que se debruçou para a apanhar o caudal de sangue do seu nariz aumentou, tal como as dores de cabeça. Quando levantou a cabeça ao longe viu novamente a sombra de olhos vermelhos, parecia saber o que detinha naquele momento nas mãos. Caminhou até ao carro com a caixa nas mãos à frente do seu peito. Em alguns segundos também a caixa ficou com manchas vermelhas do seu sangue. Não podia ligar àquilo nem às suas dores de cabeça, por mais agoniantes que fossem. Abriu a porta do pendura e colocou a caixa presa com o cinto de segurança, em seguida entrou também ele no carro. Conduziu até casa com esforço, quase já sem ver o caminho por causa das dores de cabeça. Apenas parou o carro na garagem, passando por semáforos vermelhos e STOPs sem sequer abrandar. Soltou a caixa do cinto e levou-a consigo para o elevador. Carregou no quatro e aguardou que o elevador subisse. Pouco depois de passar pelo terceiro andar olhou para o reflexo das portas de metal e viu-se com lágrimas de sangue, mas já nem ligou. Saiu do elevador e entrou no seu apartamento, abrindo a porta um pouco a custo. Colocou a caixa negra por cima da mesinha de centro que se encontrava no meio dos sofás na sala. Foi até à pequena arrecadação e trouxe uma caixa de ferramentas. Pegou numa chave de fendas, preparando-se para forçar o fraco cadeado. Não devia ser difícil. Colocou a chave entre o cadeado e a caixa negra utilizando-a como alavanca. Fez força, bastante força e finalmente rebentou o cadeado, quase caindo. Agora ia ver o que continha aquela estranha caixa, ia ver a sua salvação.
ia ver a sua salvaçao ou nao xD. estou à espera de mais xp
ResponderEliminar